O COMPROMISSO DO MAÇOM PERANTE A SOCIEDADE

Publicada por Roberto Bertelli

Publicada em 09/08/2022

O médico precisa saber o que é medicina, o advogado, o que é Direito. Assim, também, o Maçom precisa saber o que é Maçonaria. Se um bombeiro socorrista não consegue salvar um acidentado sem saber as técnicas necessárias, como um Maçom poderá ajudar a sociedade sem conhecimento maçônico para tal?

O Maçom, ao ser iniciado nessa condição, tem o dever de buscar conhecimento maçônico, utilizando-o para seu aperfeiçoamento moral. Entretanto, mais do que apenas aprender, deverá ele aplicar tais princípios em seu dia a dia, a fim de promover o bem-estar da humanidade. Para isso, o Maçom deve, sobretudo, entender o que é Maçonaria e qual o seu propósito.

Mas, afinal, qual o conceito de Maçonaria?

O site do ICP (Instituto Cristão de Pesquisas), em um texto intitulado “Maçonaria e Religião”, traz a informação de que dois pesquisadores escreveram para cinquenta Grandes Lojas dos Estados Unidos com a seguinte pergunta: 

Enquanto líder maçônico oficial, que livros e autores V.Sa. recomenda como tendo autoridade com relação ao tema maçonaria?

Os pesquisadores receberam a resposta de vinte e cinco Grandes Lojas. Em primeiro lugar ficou Henry Wilson Coil, sua obra “Coil’s Masonic Encyclopedia – Enciclopédia Maçônica de Coil”

Segundo a Enciclopédia Maçônica de Coil, o conceito de Maçonaria é:

A Maçonaria é uma ordem fraternal de homens ligados por juramento; decorrente da fraternidade medieval de maçons operativos, aderindo a muitas de suas antigas regras, leis, costumes e lendas, leais ao governo civil em que ela existe; que inculca as virtudes morais e sociais pela aplicação simbólica dos instrumentos de trabalho dos pedreiros e por alegorias, palestras e obrigações; cujos membros são obrigados a respeitar os princípios de amor fraternal, igualdade, ajuda mútua e assistência, sigilo e confiança; têm modos secretos de reconhecimento de para com outro, como maçons, quando viajando pelo mundo, e se encontram em Lojas, cada uma governada autocraticamente por um Mestre, assistido por Vigilantes, onde peticionários, após investigação particular em suas qualificações mentais, morais e físicas, são formalmente admitidos na Sociedade em cerimônias secretas baseadas em parte em velhas lendas da Arte Maçônica.

Nesse ponto, temos o dever de dizer que a fonte da tradução acima é o trabalho do Ir. Kennyo Ismail (referência ao final), pois o acesso a essa enciclopédia é muito difícil, visto que não há sequer edição traduzida para o português, tampouco é vendida nas livrarias brasileiras. A versão original chega a custar mais de mil reais em sites dos EUA.

 

Analisando o conceito acima, podemos destrinchar da seguinte forma:

A palavra "Maçonaria" é formada, em parte, pelo sufixo -aria, que designa uma ideia de "oficina". Denota coletividade em torno de uma atividade laboral. 

Já o termo "Ordem" designa uma associação em que seus membros prestam obediência a determinadas regras. 

O significado de "Fraternidade" é uma forma de organização de pessoas que visa à responsabilidade de cada indivíduo não apenas com seu próprio bem mas, sobretudo, com o bem comum em relação aos demais indivíduos.

Com relação à "Virtude Moral", filosoficamente, mais precisamente pelo conceito de Aristóteles, tal virtude surge a partir de bons hábitos adotados pelo indivíduo, que o torna capaz de praticar atos justos.

Já "Virtude Social", segundo Charles Pinot Duclós, escritor francês e membro da Royal Society de Londres, é tolerar nos outros o que devemos proibir a nós mesmos. Claro que não estamos diante de tolerância de ilegalidades. Podemos entender o conceito de virtude social de Charles Duclós por meio da explicação do Doutor em Ciência Política da USP Lucas Petroni, em seu artigo publicado na Revista Brasileira de Ciência Política da UnB, em que resume ser a tolerância a autorrestrição pessoal contra a tentação de nos valermos da coerção coletiva para fazer da sociedade um reflexo direto de nossas concepções de bem.

Ainda na Enciclopédia Maçônica de Coil há outro conceito de Maçonaria, em um sentido mais amplo, que segue:

Maçonaria, em seu sentido mais amplo e abrangente, é um sistema de moralidade e ética social, e uma filosofia de vida, de caráter simples e fundamental, incorporando um humanitarismo amplo e, embora tratando a vida como uma experiência prática, subordina o material ao espiritual; é moral, mas não farisaica; exige sanidade em vez de santidade; é tolerante, mas não indiferente; busca a verdade, mas não define a verdade; incentiva seus adeptos a pensar, mas não lhes diz o que pensar; que despreza a ignorância, mas não reprova o ignorante; que promove a educação, mas não propõe nenhum currículo; ela abraça a liberdade política e de dignidade do homem, mas não tem plataforma ou propaganda; acredita na nobreza e utilidade da vida; é modesta e não militante; sendo moderada, universal, e liberal quanto a permitir que cada indivíduo forme e expresse sua própria opinião, mesmo sobre o que a Maçonaria é, ou deveria ser, e convida-o a melhorá-la, se puder.

Analisando o conceito mais amplo de Maçonaria, como explicado acima, podemos destrinchar da seguinte forma:

Um "Sistema de moralidade e ética social" se trata de uma doutrina calcada em princípios interdependentes, os quais são pautados pela moralidade e pela ética social, ou seja, todas as regras individuais de conduta e costumes admitidos em  sociedade.

O "Humanitarismo" é uma doutrina que consiste em promover o bem-estar da humanidade (pilar da doutrina maçônica).

No que tange à "Liberdade Política", buscando o conceito na fonte, segundo Charles Louis de Secondat, o famoso Barão de Montesquieu, em sua obra O Espírito das Leis, trata-se da tranquilidade de espírito que provém da opinião que cada um tem sobre a sua segurança; e para se ter essa liberdade é preciso que o governo seja tal que um cidadão não possa temer 

outro cidadão (MONTESQUIEU, Charles de Secondat, Baron de, 1689-1755. O Espírito das Leis; apresentação Renato Janine Ribeiro; tradução Cristina Murachco. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 1996).

Em suma, podemos entender como Maçonaria:

A Maçonaria é uma associação de pessoas com objetivos próprios de uma oficina (sufixo -aria), ou seja, o trabalho, com regras a serem obedecidas por todos (ordem), alicerçadas no bem comum (fraternal), formando uma doutrina de princípios interdependentes pautados na observância da moral (virtude moral), cujos símbolos e alegorias, que representam os instrumentos de trabalho dos pedreiros, devem incutir no Maçom as virtudes necessárias para que ele possa praticar atos justos em benefício da sociedade (virtude social), promovendo o bem-estar da humanidade, pugnando pela liberdade política, a ponto de um cidadão não temer outro cidadão em razão de sua liberdade de opinião (Barão de Montesquieu).

O Maçom precisa entender que a Maçonaria não faz filantropia, tampouco age na transformação política ou socorre a sociedade. A Maçonaria é um ideal, um compilado de conhecimentos que visam à melhoria do homem Maçom, é um "sistema de moral", uma "escola de moral". O filantropo, o agente que busca transformar as relações política e que socorre a sociedade é o Maçom, o indivíduo evoluído.

Isso fica claro nas palavras do Irmão Thomas W. Jackson, Presidente Honorário da Conferência Mundial de Grandes Lojas Maçônicas:

A Maçonaria não tem o escopo de reformar a sociedade. A Maçonaria procura homens bons e de excelente caráter, aprimorando-os, tornando-os melhores. Estes sim reformarão a sociedade.

Nesse aspecto, podemos dizer que a Maçonaria, enquanto associação de Maçons, procura homens bons para compor seus quadros. Já a Maçonaria enquanto sistema de moralidade aprimora o Maçom, incutindo nele as virtudes necessárias para poder praticar atos justos em benefício da sociedade, promovendo o bem-estar da humanidade. Ora, meus irmãos, estamos diante de três grandes pilares dos objetivos da Maçonaria: INICIAÇÃO – APRIMORAMENTO – PRÁTICA JUNTO À SOCIEDADE. Ou seja. A INICIAÇÃO fica a cargo da Maçonaria enquanto associação.

O APRIMORAMENTO fica a cargo da doutrina maçônica enquanto escola de moral. A PRÁTICA JUNTO À SOCIEDADE fica a cargo de cada Maçom em razão do compromisso firmado com a Maçonaria no dia de sua Iniciação.  Ajudar o seu país a progredir é o verdadeiro trabalho do Maçom, para isso necessita ele, sobretudo, de constância e coragem

Para haver CONSTÂNCIA é necessário ORAGEM. A Maçonaria congrega homens bons e de excelente caráter dos mais variados níveis sociais, intelectuais, econômicos e profissionais. Em razão disso, e por corolário, não exigiria dos Maçons grandes demonstrações de empenho em prol da sociedade. Precisamos entender que a missão do Maçom tem por objetivo fazer a sociedade feliz, mas não especifica qual o tipo de atividade o Maçom desenvolverá para atingir tais objetivos. O único fato necessário e exigível é que seja constante.

Não precisa o Maçom realizar grandes obras sociais, sejam elas políticas, filantrópicas, etc.. Pode e deve o Maçom intervir em pequenos assuntos de seu dia a dia com base nos princípios maçônicos, afinal, todo o esforço do Maçom em prol do bem-estar da humanidade faz parte de sua missão, mas desde que seja CONSTANTE, pois a falta da constância distancia o Maçom da sua missão.

Não deveis deixar de servir ao Povo quando ele precisar de vossos serviços, conduzindo-o sempre pelos caminhos da Liberdade e da Justiça

No DEVER DE SERVIR não há especificação de quando e como, exceto quando há a implicação de ser CONSTANTE, ou seja, NÃO DEIXAR DE SERVIR AO POVO no serviço em prol do bem-estar da humanidade.

Quanto aos CAMINHOS DA LIBERDADE E DA JUSTIÇA, citamos os excertos: 

A Maçonaria procura homens experimentados e espíritos amadurecidos e resolutos, a fim de dar à Humanidade, condutores hábeis pelo estudo e implacáveis no cumprimento do dever. 

E mais: 

A Maçonaria consagra o máximo respeito à LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA, mas rechaça a liberdade de obedecer à indiferença, aos caprichos e à covardia. 

Mais ainda: 

A JUSTIÇA aconselha a defender os mais fracos contra os mais fortes, velar pela saúde pública, proteger o presente sem comprometer o futuro e não tentar administrar sozinho, pois não há pior Governo que aquele que não se vê governar ou que menos governa.

O Maçom, em sua Iniciação, ainda promete expressamente praticar a solidariedade humana, amparando a todos sem ostentação, sem vaidade, sem orgulho, com a verdadeira humildade maçônica.

A SOLIDARIEDADE HUMANA é a tal filantropia, que, por sua vez, é gênero do qual a caridade é espécie. 

Ser solidário é auxiliar alguém em algum propósito, seja por meio de ação assistencial, educacional, política, dentre outras. É caminhar com o semelhante, enfrentando unidos os problemas. A solidariedade tem um sentido muito mais amplo que a caridade, visto que esta é demandada em razão de uma situação iminente a ser amenizada. A solidariedade é dever do Maçom, seja ele demandado ou não.

Uma vez iniciado, o Maçom recebe seu avental de Aprendiz como símbolo do trabalho e de que deverá ter sempre uma vida ativa e laboriosa. O Maçom, a partir de então, deverá se preparar por meio da busca do conhecimento maçônico, utilizando-o para seu aperfeiçoamento moral. 

Uma vez preparado, deverá o Maçom aplicar tais princípios em seu dia a dia, a fim de promover o bem-estar da Pátria e da Humanidade, erigindo grandes Templos à virtude humana e enterrando todo o vício que subjuga a alma do homem.

 

Referências:

Trabalho do Irmão Kennyo Ismail

http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/11238/DISSERTA%C3%87%C3%83O-KENNYO-ISMAIL.pdf?sequence=1&isAllowed=y

Trabalho do Doutor Lucas Petroni

 

(https://periodicos.unb.br/index.php/rbcp/article/view/2200)